Imagem: Comunicação SerelO apito da Cobrasma marcava o tempo em Osasco, siderúrgica que teve início em 1944 como fábrica de equipamentos ferroviários e que encerraria atividades em maio de 1998. Décadas atrás e por ser ainda uma cidade horizontal (hoje verticalizada por edifícios), o som da Cobrasma ecoava por toda parte.
Outras grandes indústrias faziam o progresso osasquense há cinquenta anos como Braseixos, Lonaflex, Barreto Keller, Fósforos Granada, Brown Boveri… Sim, uma jovem cidade (emancipada em 1962) colada à capital paulista e que cresceria até o atual status entre as dez maiores economias do País.
Quando o Brasil festejava o tricampeonato mundial no México 70, Osasco crescia velozmente ao apito da Cobrasma e Nardão tinha 18 anos. Curtia o futebol como grande paixão e veria a cidade sediar pela primeira e única vez os Jogos Abertos do Interior em 1972, evento que seria um marco para ele. Não deu outra, Nardão logo estaria no time municipal – no ano seguinte subiria ao pódio de ouro com o futebol masculino de Osasco nos Jogos Abertos em São Bernardo do Campo. Após 48 anos, esse título segue inédito na história osasquense.
Na década seguinte ele entraria na prefeitura e para dinamizar o esporte – era 1986 quando assinava a primeira temporada aos 34 anos e para jamais parar. Hoje é considerado verdadeira enciclopédia por detalhar eventos esportivos e com datas precisas; mais que isso, é referência em termos técnicos para todas competições da Secretaria de Esporte.
É o grande mestre, cérebro dos Jogos Regionais e dos Jogos Abertos. Poderia ser Léo como a maioria dos Leonardos, mas esse Nardo no aumentativo justifica a grandeza desse baita profissional – Leonardo Antônio David, 69 anos de Osasco, da gema.
No entanto, desde o ano passado e como todo mundo, ele amarga esse momento triste da pandemia. Mas há uma agravante nessa tristeza, pois 2020 passou sem Jogos Regionais e Jogos Abertos. Para o professor, uma falta doída porque esses dois eventos o ocupavam praticamente o ano todo – Nardão é mesmo um raro especialista da matéria e o trabalho sempre foi mesmo intenso com dezenas de modalidades e um número extremo de competidores.
Hoje, a Secretaria de Esportes adequa-se à tecnologia para manter o esporte conectado, já que não há atividades presenciais – professores com aulões ao vivo agrupam a moçada durante todo ano da pandemia. Mas nesse espaço virtual não há lugar para a lenda Nardão, homem defront de batalha, de ir à luta corpo a corpo, de fazer e acontecer.
Rodolfo Cara é o secretário de Esportes e assim define o guerreiro: “A palavra ‘servidor’ vem do ‘bem sevir’. É nossa obrigação e Nardão é exemplo de serviço com eficiência; uma trajetória que constrói com habilidade e competência. Fico muito feliz por tê-lo na equipe.”
Por ora e conforme é necessário, o valente curte isolamento com a família mas apostando no otimismo para que o Brasil retome o caminho da saúde e que o esporte em geral volte às competições. Há expectativa que essa retomada aconteça no próximo semestre, tanto que o governo não descarta e segue pensando em adaptações para os Jogos Regionais e os Abertos pós-vacina.
Não é preciso dizer, Nardão mantém a prontidão para quando o esporte voltar. Um cidadão histórico e que parece intocável pela linha do tempo – tem aquela mesma garra de atleta buscando pódio, a mesma motivação de quando iniciava na secretaria, o mesmo pulsar apaixonado por tudo que é Osasco.
Texto: Márcio Silvio